quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O prazer de receber em casa

Por Aline Maciel

O pai de Talita da Silva passou a vida juntando dinheiro. Seu sonho era comprar uma casa para a família. Estava cansado de pagar o aluguel da pequena casa em que moravam.

O velho sonho começou a se realizar há três anos, quando enfim conseguiu comprar um terreno em Jardim da Viga. Mas o sonho teve início com o pesadelo de conciliar a compra de material de construção com o aluguel da casa em que moraram até o fim da obra. Para piorar a situação, o terreno comprado não era plano e precisava ser aterrado. Essa última fase dilapidou toda a poupança do pai.

A obra começou com o dinheiro que o pai de Talita conseguiu emprestado junto aos parentes. Mas como ele tinha que sustentar uma família de cinco pessoas e ainda pagar o aluguel, ele só ousou pedir o suficiente para deixar a casa em ponto de laje.

Pagas as dívidas, o pai recorreu ao enteado, que lhe conseguiu o dinheiro necessário para fazer as obras indispensáveis para que a família passasse a ocupar a casa.

Vendo o sacrifício e o esforço do pai para construir a casa e lhe dar um lar digno, os filhos resolveram se juntar (cada um deu um tanto em dinheiro) e comprar o material que faltava para colocar o piso da casa. Ao fazer as contas, ele percebeu que não poderia pagar o pedreiro. Resolveu então colocar o piso no cartão de crédito e usar o dinheiro dos filhos na mão de obra.

Depois dessa epopéia, a obra ficou pronta duas semanas antes de o oficineiro apresentar a tarefa da obra. "Foi muito bom o sentimento de saber que aquilo era nosso", disse Talita para o grupo. Quando ela se mudou para a casa nova, pôde realizar um velho sonho. “Pude convidar minhas amigas para minha casa.”

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Achados e perdidos

A autônoma Marta Íris transformou a árvore em frente a sua casa num cabideiro. É ali que reúne os objetos deixados pelas crianças que brincam em frente a sua casa. Essa árvore anima e faz parte da sua vida.

Nome Marta Íris >> Idade 19 Anos


Rua Milton Campos >> Ocupação Autônoma

E-Mail martairisfarias@hotmail.com

Orkut Marta-iris@bol.com.br

Quem sou eu?
Sou uma pessoa sincera e pronta para ajudar às outras.

O que gosta de fazer?
Estudar e conversar com os amigos.

O que não gosta de fazer?
Dormir.

Suas qualidades?
Muito amiga.

Seus defeitos?
Confiar muito nas pessoas.

Por que você veio para o projeto?
Para desenvolver o conhecimento

O que você espera do projeto?
Uma capacitação profissional.

Qual história você contou?

Minha árvore é um cabide
È a historia de uma árvore muito especial que existe na calçada da minha casa, onde tudo que eu encontro perdido pela rua, de chinelos das crianças, roupas a chaves e outras coisas mais, eu penduro nessa árvore. Ela parece mais uma árvore brechó, mas funciona como uma árvore de achados e perdidos. Se você perdeu alguma coisa, é só procurar na minha arvore cabide. Ela fica na Rua Milton Campos, no Bairro Cruzeiro do Sul.

Por que você contou essa história?
Essa é uma historia que anima e faz parte da minha vida.

Você acha que o grupo tem chances de ser o vencedor do projeto?
Com toda certeza, o grupo é esforçado e está se dedicando.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Obra em jogo

Jovens do Rancho Novo reconstroem suas histórias
Por Aline Maciel e Leonardo Venancio

A oficina 'Minha Rua Tem História' desta quarta-feira começou de forma um pouquinho diferente do que normalmente acontece. Quem começou a oficina foi a assistente Lílian Batista da Conceição, convocando os jovens para uma "viagem de volta aos tempos de criança".

Com os olhos fechados, eles tentavam buscar no pensamento lembranças dos seus tempos de criança. Ao abrirem os olhos, Lílian perguntou o que cada jovem lembrou. A maioria se lembrou de surras que tomaram durante a infância por aprontarem demais, outros lembraram dos mimos da vovó, alguns lembraram o dia que souberam que eram filhos adotados, ressaltando que a descoberta não foi tão ruim assim.

Teve gente que lembrou que passeava com o pai e que hoje não faz mais isso porque hoje o pai é alcoólatra, outra lembrou que antigamente soltava pipa na rua com o pai e se lamenta por não fazer mais isso hoje. Foi uma experiência bem positiva para todos eles, onde puderam relembrar o passado.

Somente depois disso que o oficineiro Thiago Costa entrou em cena. Para acabar com a paz de espíritos dos participantes da gincana, o oficineiro trouxe algumas tarefas-relâmpago para que todos cumprissem. Alarmados, todos ouviram Thiago anunciar que essa seria uma das melhores semanas, pois eles iriam se divertir pra valer. E se divertiram mesmo.

Thiago separou os 24 jovens que haviam na sala em dois grupos de 12 pessoas, e perguntou: "Quem nunca brincou de fazer mímicas quando era criança?"

Nesse ritmo de brincadeira, o oficineiro deu 10 pedacinhos de papeis a cada grupo para que neles escrevessem 10 coisas relacionadas a obras. Já o grupo adversário teria que fazer a mímica dessas 10 coisas que eles escrevessem. Quase todos os jovens foram à frente fazer uma mímica para seu próprio grupo adivinhar.

Ao terminar, Thiago explicou que a dinâmica era um exercício para uma outra tarefa surpresa: agora, todos deveriam trazer histórias sobre obras feitas em suas próprias casas ou em suas próprias vidas.

Vale lembrar que o tema "obras" não ficará restrito a construção civil, mas abrangerá obras sociais, espirituais, e outras. Cabe aos jovens decidir quais obras merecem ser evidenciadas nessa semana. O oficineiro também pediu para que cada um trouxesse um objeto que represente ou lembre a história.

domingo, 7 de setembro de 2008

O gato que faz piu-piu

Ganhadora de Rancho Novo conta história
de morador de árvo
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A estudante Jéssica Matias jamais jogou futebol, mas nasceu com o instinto dos grandes atacantes. “Aproveito tudo”, diz essa estudante de 17 anos. Foi com essa sede de ganhar que essa futura estudante de moda escreveu a história de Seu Piu Piu, o célebre morador da árvore que faz com que a rua Machado Coelho seja mais conhecido como a Rua da Jaqueira. Não foi à toa que saiu da Vila Olímpica com um vale para 10 horas de internet em uma lan house de Rancho Novo e um MP4, o primeiro por ter escrito a melhor história da sua turma e o segundo por ter vencido o quizz que Marcus Vinícius Faustini, secretário municipal de Cultura e Turismo e mentor da gincana social Minha Rua Tem História, com os demais autores dos relatos que se destacaram na primeira fase do projeto em seu bairro.

Jéssica Matias, que está cursando o 1º ano do ensino médio na Persi, entrou no Pro Jovem com a mesma determinação com que bateu na porta do curso que oi oferecer uma promoção para 14 cursos na sua escola. “Fui a única estudante a tentar aproveitar aquela promoção”, lembra. O desejo de se especializar se mantém inalterado mesmo depois dos cursos de informática básica e telemareting. “Agora estou fazendo informática avançada.”

Mais graça

A determinação com que Jéssica se atira na vida pode ser medida pelo fato de que a história do Seu Piu-Piu foi contada pelo participante de outra turma do Rancho Novo, também morador da Rua da Jaqueira. “Ela contou com muito mais graça e detalhe”, revela Tiago Costa, o oficineiro do bairro.

Jéssica não teve dúvida de contar a história de Seu Piu-Piu, de quem ela ouve falar desde que se entende por gente. “Eu vi quando ele caiu da jaqueira de cabeça no chão e só não morreu por milagre”, conta ela. Além do susto com a queda, Jéssica sempre teve simpatia por aquele de cerca de 40 anos, que prega no tronco da jaqueira os quadros baseados nos clubes de futebol cariocas com que paga suas contas.

Seu Piu-Piu não mora mais na jaqueira desde a queda, que foi tão violenta que algumas pessoas no bairro acham que devia mudar seu apelido para Seu Gato. “Ele foi morar numa casa praticamente em frente à árvore”, conta Jéssica. “Mas todo dia ele está na árvore, vendendo seus cacarecos.”

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

As periguetes
Por Aline Maciel

Os 13 jovens da Turma D se reuniram na Escola Municipal Osires Neves para participar da terceira oficina do projeto “Minha Rua Tem Memória”. Como já haviam combinado, montaram uma espécie de livro, com capa e tudo, que fizeram à mão. Depois de contar sua história, cada um dos participantes ia até o centro da roda formada na sala e a colava à de seus companheiros de gincana.

A história que deu mais o que falar foi a da jovem Janaína Dionísia, de 23 anos, moradora do bairro de Jardim da Viga, que contou que na calçada de sua casa tem uma árvore que serve de ponto de encontro das menininhas "periguetes" da rua. Todos os dias, à noite, elas se reúnem num banquinho que seu tio havia feito para aproveitar a sombra da árvore durante o dia e ficam sentadas lá, paquerando os meninos que passam. Mas se a história parasse por aí, até que não teria tanto problema. Só que elas (as periguetes) acabam "ficando" com esses meninos ali mesmo, debaixo daquela árvore. O falatório, que vai até altas horas da noite, acaba impedindo Janaína e sua família de dormirem direito.

“Quando chega de manhã, a gente sempre encontra alguns preservativos usados quando vai varrer a as folhas e as sujeiras que acumulam na calçada de um dia para o outro”, contou ela. Janaina disse que seus pais até quiseram cortar a árvore, não o fazendo porque pensaram melhor e perceberam que a árvore não tinha culpa nenhuma.

Enquanto ela relatava o namorico debaixo da árvore, uma das jovens associou essa história à que ela própria iria contar. "A minha história também é de namoro debaixo da árvore e aconteceu comigo, mas não sou nenhuma ‘periguete’, não”, disse Bruna Basílio, para o riso de todos.

A história que essa moradora do bairro da Viga relatou ocorreu há cerca de oito anos, quando ela era uma adolescente de 12 anos. E foi nessa época que ela conheceu seu primeiro amor, embaixo de uma amendoeira. “Aquele local passou a ser o nosso ponto de encontro”, disse ela. Quando completou 13 anos, seu namorado a levou até a amendoeira e lhe presenteou com um belo buquet de rosas vermelhas. Foi um gesto bem romântico, que a deixou emocionada. O namoro não deu certo, mas até hoje ela lembra daquele “dia lindo” quando passa por aquela amendoeira.

Essa idéia de que uma história acabou se encaixando de alguma forma na outra, fez com que o oficineiro tomasse a iniciativa de tentar fazer com que os jovens fizessem uma associação entre todas as histórias. A experiência resultou numa só história, com começo, meio e fim. Além da percepção de que os fatos tinham uma ligação entre si, a história coletiva continha vários momentos engraçados.

E para fechar com chave de ouro, como sempre fazem, todos se reuniram no centro da roda com as mãos umas sobre as outras e deram o já famoso grito de guerra deles: "MINHA RUA TEM HISTÓRIA!"